A indústria alimentícia no Brasil está em um cenário “superpositivo”, e ultrapassou, pela primeira vez na história, R$1 trilhão em faturamento em 2022.
A avaliação é da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), cujos dados mostram que o setor de alimentos e bebidas registrou aumento de 16,6% no faturamento e de 2,5% na produção em 2022 em relação a 2021.
Mas o que influenciou um panorama tão favorável e quais as expectativas para 2023? Saiba como está o setor da indústria alimentícia no Brasil, o segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo.
E essa é a primeira vez que a indústria alimentícia no Brasil ultrapassa R$1 trilhão em faturamento, segundo Gustavo Bastos, o presidente do Conselho Diretor da Abia.
Porém o balanço fica ainda mais animador quando o resultado é analisado: 72% desse valor é referente ao abastecimento do mercado interno e apenas 28% é proveniente de exportações.
Descontada a inflação do período (acumulada em 12 meses do grupo de alimentação fora do lar do IPCA-IBGE, em 7,5%), em termos reais, as vendas do setor avançaram 3,7%, segundo a Abia.
Para a associação, o faturamento se deve a um crescimento de 30% nas vendas externas e de 14,3% na receita do mercado doméstico.
Dos R$770,9 bilhões gerados em 2022 no mercado interno, aliás, R$563,7 bilhões vieram do varejo alimentos e R$208 bilhões do food service (alimentação fora de casa).
Também em termos reais, as vendas da indústria para o food service cresceram 9,8% em relação a 2021, puxando o aumento no mercado doméstico e respondendo por 27% das vendas locais da indústria em 2022 — ante 26,4% em 2021.
Resultado das mudanças de consumo ocorridas durante a pandemia, para Bastos os números indicam que o processo de fortalecimento do canal food service continuará ao longo dos próximos anos.
Por outro lado, mesmo com a restrição causada pela inflação em 2022, as vendas da indústria de alimentos para o varejo alimentar brasileiro avançaram 1,7% em termos reais.
Já as exportações, que representam “apenas” 28% do faturamento da indústria alimentícia no Brasil, atingiram o faturamento recorde de R$304,4 bilhões. O número significa um crescimento de 30% em 2022.
Com isso, conforme a Abia, o país mantém seu posto de segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo.
Foram 64,8 milhões de toneladas vendidas para 190 países no ano passado. Proteínas animais, farelos, óleos, açúcares e gorduras foram os produtos mais exportados no período.
Para o presidente executivo da Abia, João Dornellas, em 2022 o crescimento da economia mundial continuará estimulando o consumo de alimentos.
“Esse fator, combinado com a taxa de câmbio favorável, contribuiu para a expansão das exportações brasileiras de alimentos industrializados. Por outro lado, houve um investimento de R$23,6 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, expansão de plantas fabris, compra de máquinas e equipamentos, fusões e aquisições”, afirma.
Segundo ele, o total investido significa cerca de 2,2% do faturamento total da indústria alimentícia no Brasil e também contribuiu fortemente para o desempenho do setor.
Para a Abia, o conflito entre Rússia e Ucrânia intensificou esse movimento. Um agravante foi a redução da renda da população, ocasionada no pela alta da inflação no ano passado e a elevação dos preços das commodities agrícolas, que impactou fortemente o custo de produção dos alimentos industrializados em 2022.
De acordo com a Abia, houve ainda aumento de 25% (diesel) a 30% (gás natural) nos combustíveis, e de 30% no custo de aquisição das embalagens.
Juntos, esses aumentos geraram uma alta de 15% no custo industrial de produção de alimentos. O percentual ficou acima da inflação acumulada no ano do grupo alimentos e bebidas do IPCA-IBGE, de 12,0%, conforme a entidade.
Mas, para Dornellas, o movimento de recuperação da economia brasileira e mundial em 2023 deve contribuir positivamente para a expansão da produção e das vendas da indústria alimentícia nos mercados interno e externo.
Além disso, é preciso conhecer e alinhar as estratégias com o novo perfil do consumidor, cada vez mais informado, exigente e sustentável. Nesse sentido, é preciso vencer o desafio de uma indústria alimentícia no Brasil mais transparente.
Mostrar respeito ao consumidor e suas escolhas com campanhas claras e uma linha de produção limpa e sem desperdício é fundamental para consolidar uma imagem de autoridade no setor.
De acordo com o relatório anual Taste & Nutrition Charts Kerry 2023, produtos sem aditivos e conservantes, baixo teor de gordura, sem gordura trans e fortificados seguem liderando a preferência do público. Os itens naturais e ricos em fibras também aparecem em alta no mercado.
O portfólio mais saudável inclui os produtos que beneficiam a saúde e o controle de peso. Itens com adição de ômega 3, cálcio, probióticos e pouca (ou nenhuma) quantidade de sódio e carboidratos se destacam.
Na outra ponta, a reforma tributária é uma das grandes prioridades da indústria alimentícia no Brasil.
Para a Abia, a questão é de grande importância para o setor e deve contemplar a integração de vários tipos de impostos, de forma a simplificar processos e ter alinhamento internacional.
A associação defende que os impostos sobre alimentos no país sejam zerados ou reduzidos ao nível da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De acordo com a entidade, os tributos que hoje incidem sobre alimentos no país somam em média 23%. Já nos países membros da OCDE a incidência é de 7%.
Para a Abia, é preciso que a reforma tributária veja o alimento como algo essencial para as famílias brasileiras, principalmente porque as de baixa renda são as mais afetadas pela carga elevada.
Segundo a associação, as famílias que vivem com até dois salários-mínimos usam 22% da sua renda para comprar alimentos. E 70% dos alimentos do país são consumidos pelas famílias de classe média, que recebem até 10 salários-mínimos por mês.
Mais investimentos em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) e em marketing também são prioridades da indústria alimentícia no Brasil deste ano.
Afinal, não dá mais para trabalhar no ramo industrial sem pensar no marketing digital e em todos os benefícios que ele proporciona para as indústrias. A busca por alimentos mais saudáveis demanda investimentos cada vez maiores em P&D.
A adição de nutrientes que melhoram a qualidade de vida favorecendo a saúde dos olhos, dos ossos, redução do colesterol e o fortalecimento da memória, por exemplo, é uma exigência crescente dos consumidores.
Empresas que buscam diferenciais para conquistar esse público precisam de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento de produtos.
Porém, o aumento da competitividade do setor requer também investimentos em um marketing especializado. Afinal, não basta produzir, é preciso ganhar visibilidade e fazer o resultado dos esforços para chegar ao consumidor ideal. Estes investimentos em marketing devem se basear em:
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), em 2022, o setor da indústria de alimentos gerou 58 mil vagas diretas, 3,4% a mais que em 2021, totalizando 1,8 milhão de empregos diretos.
Do faturamento total, o setor de alimentos contribuiu com R$ 898,4 bilhões e o de bebidas, com R$177 bilhões.
O setor de delivery foi um dos que mais prosperaram desde a crise sanitária da Covid 19.
De acordo com a Neotrust, empresa de monitoramento do e-commerce brasileiro, o setor de delivery da indústria alimentícia no Brasil aumentou 241% entre o segundo trimestre de 2019 e 2020.
Em 2022 o crescimento ficou em torno de 18%, mesmo com a retomada do food service. Para a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a alimentação fora de casa deve fechar em 2023 com um faturamento na casa dos R$407 bilhões.
Por outro lado, os dados da Abrasel mostram ainda que houve um aumento de 9,6% no salário médio do setor em 2022. Acima da média geral no período, que foi de 8,3%.
Já o segmento de alimentação de franquias faturou R$51,9 bilhões em 2022. Os dados, da Associação Brasileira de Franchising, correspondem a 24,5% de todo o faturamento do franchising nacional no ano passado. E são 31% a mais do que os números de 2021 do ano anterior.
Para os especialistas do setor, é fundamental que as indústrias alimentícias no Brasil participem da formação de uma nova cultura alimentar.
É preciso identificar e entender deficiências e tendências do mercado, participando efetivamente dos processos de transformação. Conheça algumas das expectativas do setor para um futuro próximo.
A construção da nova cultura alimentar deve ser bilateral. As empresas não ditam regras, mas buscam aumentar a conexão com seu público para compreender a demanda e se adequarem.
Para isso, é imprescindível estudar o mercado e ouvir o consumidor, buscar engajamento e um relacionamento de confiança.
A ótica da sustentabilidade e da saúde através do alimento deve levar a novas regulamentações, com a restrição de uso de determinados ingredientes.
A tendência é que as exigências em torno dos produtos aumente cada vez mais em todo o mundo e de forma geral, não apenas para os alimentos voltados a públicos vulneráveis.
O investimento em uma agricultura mais sustentável e técnicas amigas do meio ambiente, durante todo o processo produtivo dos alimentos, ganha cada vez mais força.
Além de conquistar uma fatia crescente do mercado, reduz custos de produção e melhora a imagem da marca entre a concorrência.
A indústria 4.0 otimiza a rotina, acelera procedimentos, evita desperdícios e melhora a higiene na produção.
A tendência faz com que a indústria alimentícia no Brasil ganhe mais confiança de seus clientes na medida em que também aumenta a segurança dos alimentos.
Já a internet das coisas (IoT) possibilita a integração de todo o sistema ao mesmo tempo em que coleta dados fundamentais para a geração de insights.
Além disso, garante uma visão mais integrada dos processos, favorecendo a rapidez na identificação e solução dos problemas.
Essa automação ajuda a indústria alimentícia no Brasil a minimizar os problemas com os altos custos da produção causados pela inflação alta e/ou a escassez de matéria-prima.
Agora que você já tem um bom panorama dos caminhos da indústria alimentícia no Brasil, é hora de pensar no planejamento estratégico em marketing para os próximos meses.
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